Tenho o prazer de partilhar convosco o trabalho que me valeu o 1º Prémio na categoria de Ensino Superior do Concurso APECV 2025!
“Diálogos entre Mundos: Percurso na Rota dos Penedos da Fonte Santa”
A minha exploração visual da Serra de Leomil em Moimenta da Beira resultou numa série fotográfica que documenta a relação entre o natural e o cultural através do percurso pedestre “Rota dos Penedos da Fonte Santa”.
Inspiração em David Hockney
Este projeto nasce da minha profunda admiração pelo trabalho de David Hockney, particularmente pela sua técnica revolucionária de “joiners” desenvolvida nos anos 1980. Hockney, insatisfeito com as limitações da fotografia tradicional para capturar a experiência humana do espaço e do tempo, começou a compor colagens fotográficas de múltiplas perspectivas e momentos. Os seus “joiners” desafiam a visão monocular da câmara fotográfica, propondo uma experiência visual mais próxima da percepção humana: fragmentada, múltipla e em constante movimento.
Inspirado por esta abordagem, adaptei a técnica utilizando um padrão geométrico em diamante para fragmentar e recompor as paisagens da serra. Esta escolha formal não é apenas estética, mas conceptual: assim como Hockney questionava a objetividade fotográfica, o meu trabalho questiona a visão objetiva e unificada da natureza, propondo que nossa relação com a paisagem é sempre mediada por camadas de cultura, memória e intervenção humana.
A Obra
Nesta obra “Intervenção Orgânica”, capturo uma fisga gigante construída com ramos e madeira natural, que faz parte de um conjunto de esculturas instaladas ao longo do percurso pedestre “Rota dos Penedos da Fonte Santa”. Esta peça situa-se estrategicamente no topo da serra, oferecendo uma vista privilegiada para o vasto horizonte onde se avista a imponente Serra da Estrela. As fitas coloridas que pendem das extremidades superiores representam os elásticos deste instrumento tradicional, criando uma metáfora visual poderosa que convida os caminhantes a “mirar” a paisagem de forma contemplativa. Sentados na base da fisga, os visitantes podem contemplar este diálogo entre serras – de Leomil para a Estrela – numa experiência que conecta o corpo à paisagem.
Ao fotografar e reinterpretar esta intervenção artística integrada no percurso natural, o meu trabalho explora as múltiplas camadas de interação entre a criação humana e o ambiente: a rota pedestre em si, as esculturas que a pontuam, e a técnica fotográfica que fragmenta e reconstrói esta experiência.
A fragmentação em diamante que apliquei funciona como uma lente conceptual: cada fragmento carrega um pedaço da realidade, mas é na sua recomposição que encontramos novos significados. Esta abordagem ecoa as ideias de Hockney sobre como construímos a nossa percepção do mundo a partir de fragmentos de experiências, memórias e perspectivas.
À esquerda: a fotografia original da fisga no percurso.
À direita: a versão final com a técnica inspirada em Hockney que venceu o concurso.
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